“Estranho Jeito de Amar”: única série gay que aborda relacionamento abusivo como temática principal

Colaborador
5 Min Read

Enquanto grande parte das narrativas LGBTQIAP+ na ficção ainda idealiza os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo e aborda temas clichês, a série “Estranho Jeito de Amar” escolheu seguir por um caminho necessário, delicado e corajoso: expor, com sensibilidade e profundidade, a existência de relações tóxicas dentro do universo gay masculino. A série se destaca como a única produção brasileira do gênero que tem o relacionamento abusivo como eixo principal, quebrando tabus e dando voz a uma dor muitas vezes invisível. 

“Estranho Jeito de Amar” conta a história de Gael (Rodrigo Tardelli) e Noah (Allan Ralph). Noah é um modelo de São Paulo, que viaja para o Rio de Janeiro a trabalho e conhece Gael, dono de uma casa que é locação de uma animada pool party, onde se conhecem na primeira temporada e a atração entre os dois é imediata. Gael convida Noah para morar com ele, prometendo novas oportunidades no Rio. 

À medida que a relação se desenvolve na primeira temporada, começam a surgir conflitos profundos envolvendo controle e dependência emocional e revelando camadas complexas dos personagens e seus passados. Na segunda temporada, Noah decide fugir dessa relação tóxica, mas Gael não aceita a separação tão facilmente. Determinado a reconquistá-lo, ele usa todas as suas estratégias para se reaproximar, gerando novos conflitos e surpresas que prometem prender o público do início ao fim.

“Existe uma romantização muito forte dos casais LGBTQIAP+. Como se, por já enfrentarem preconceitos sociais, vivessem automaticamente histórias perfeitas. Mas isso não é verdade. O abuso também acontece entre dois homens, e a gente precisava falar sobre isso”, explica Rodrigo Tardelli, criador e protagonista da série. Para ele, a produção cumpre um papel urgente: mostrar que amor não basta quando não há respeito, e que reconhecer os sinais de abuso é o primeiro passo para sair dele.

Lançada de forma independente, “Estranho Jeito de Amar não contou com o respaldo de grandes emissoras, o que tornou o desafio ainda maior – mas também mais autêntico. Com cenas intensas, diálogos reais e uma abordagem sem filtros, a série já impactou espectadores de diversas partes do país. “Recebo mensagens emocionadas de pessoas dizendo que só perceberam que estavam em relacionamentos abusivos depois de assistir à série. Isso mostra o quanto estamos tocando em algo necessário”, completa o artista.

Ao tratar de um tema ainda raro nas obras LGBTQIAP+, o projeto vai além do entretenimento. “Durante muito tempo lutamos para contar histórias de amor felizes, com finais bonitos. Mas chegou a hora de amadurecer essas narrativas. Falar de abuso não enfraquece a representatividade, pelo contrário: fortalece, porque mostra que somos plurais, complexos e reais”, comenta o criador.

A atuação intensa do elenco e o roteiro comprometido com a verdade tornam “Estranho Jeito de Amar” forte uma obra potente e educativa. O personagem Gael, por exemplo – interpretado pelo próprio criador – é um agressor emocional, e trouxe aprendizados profundos para Rodrigo. “Foi um processo doloroso e transformador. Me fez refletir sobre masculinidades, poder, afeto. Sobre como a arte pode transformar dor em cura”.

A série vem provocando debates importantes sobre relacionamentos, identidade e limites emocionais. “Quando a arte atravessa a tela e vira instrumento de transformação, aí ela cumpre um papel social ainda maior. ‘Estranho Jeito de Amar’ não é só entretenimento, é um grito, um alerta e, muitas vezes, um abraço para quem precisa sair de uma situação que machuca”, reforça Tardelli.

A série já conta com um público muito fiel e que se envolve com a história. Sobre a possibilidade de uma futura temporada, o ator diz: “O carinho do público é o que move a gente. Se depender dessa conexão que construímos, ainda temos muita história para contar”, finaliza Rodrigo. 

Share This Article
Nenhum comentário